terça-feira, 10 de março de 2009

Esperanças “Keynesianas”

Volta a falar-se muito, por força da situação das economias, de John Maynard Keynes. As suas posições e ensinamentos readquirem actualidade e importância acrescidas.
Importa pois, neste espaço de “clareza no pensamento”, falar um pouco sobre esta personagem e algumas das suas ideias.
Keynes (1883-1946), economista inglês, foi um dos nomes maiores da ciência económica e aquele que marcou, de modo mais evidente, a política económica dos governos (em economias de mercado) a partir dos anos 30 do século XX.
Com um percurso de sucesso em áreas diversas, o seu trabalho em Economia culminou com a publicação em 1936, época da Grande Depressão, da obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, que aparece fundamentalmente como reacção e tentativa de compreender as razões e os mecanismos que conduziram à crise e ao enorme desemprego, involuntário e persistente, que se verificava.
Ao fazê-lo, rompe com as explicações clássicas e neoclássicas, prevalecentes até então, que defendiam que o mecanismo de mercado (no essencial, a livre interacção da procura e da oferta) continha os elementos que permitiriam ultrapassar, por si, as crises que fossem aparecendo, não sendo por isso necessária, nem desejável, a intervenção dos Governos em termos de política económica activa (explicações que a Grande Depressão se encarregou de contrariar, de forma inquestionável).
Keynes postula então que o mecanismo de mercado não era, afinal, “perfeito”, não resolvendo por si todos os problemas. Sendo assim, e para suprir essas falhas do mecanismo, “alguém” teria que ajudar a economia, competindo essa tarefa essencialmente ao Estado, sem colocar em causa, no entanto, o papel fundamental do mecanismo de mercado e do liberalismo económico.
Para Keynes, o desemprego (e quebra na produção) resultava sobretudo de uma procura insuficiente. Impunha-se por isso a adopção de políticas expansionistas adequadas que, incrementando as várias componentes da procura, induzissem crescimento da produção e emprego. Entre as intervenções recomendadas contavam-se a descida da taxa de juro (para fomentar o investimento), a redistribuição do rendimento a favor das classes de menores recursos (que aumentaria o consumo privado, dado estas classes consumirem uma maior parcela relativa do seu rendimento) e o acréscimo dos investimentos públicos.
As ideias de Keynes foram rapidamente colocadas em marcha, nomeadamente pelo Presidente americano Franklin Roosevelt, com a política do New Deal de combate à Grande Depressão. A mesma incorporava diversas medidas de carácter social, grandes projectos de obras públicas, incentivos ao investimento privado, etc., procurando assim expandir-se a procura nas suas diversas componentes.
Passados quase 80 anos, esta lógica de intervenção ganha novamente grande dimensão em várias economias, nomeadamente (e mais uma vez) nos Estados Unidos com o plano de recuperação económica (The American Recovery and Reinvestment Act 2009) da Administração Obama.
O plano (envolvendo um montante estimado de 787 mil milhões de dólares) engloba três vertentes principais: investimento público (em infra-estruturas, pesquisa e desenvolvimento no domínio das energias e na área da saúde, …), redução de impostos (aumentando o rendimento das famílias e favorecendo o crescimento das suas despesas) e intervenções de auxílio (nomeadamente nos domínios do desemprego e dos cuidados de saúde). A esta política orçamental acresce a política monetária (também ela expansionista) de redução da taxa de juro (seguida pela Reserva Federal americana), com vista à expansão do investimento e consumo.
Noutros países, nomeadamente europeus, a receita seguida é semelhante. Todas elas de inspiração marcadamente keynesiana.
As ideias de Keynes ajudaram seguramente a resolver algumas crises e a prevenir outras. Nos dias que correm, muitas das esperanças para a resolução da situação actual voltam a depositar-se nele. Ou melhor, nas suas ideias.

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