Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal registou em Março de 2009 uma variação de -0,4%, em termos homólogos, do Índice de Preços no Consumidor (IPC). Em Abril a redução dos preços foi ainda mais acentuada (-0,5%). Estes valores são historicamente baixos (resultados similares remontam aos anos 60). Começa a falar-se em deflação e nos seus perigos potenciais. Convém, por isso, procurar clarificar aqueles números.
Como se mede a variação dos preços (inflação)?
A inflação avalia-se através do IPC, que é um indicador que mede a evolução, em termos relativos, do custo de um conjunto de bens e serviços (cabaz), considerado representativo da estrutura de consumo das famílias. Em Portugal o cabaz engloba mais de 1100 bens e serviços, repartidos por 12 classes.
E o que é a taxa de variação homóloga?
A taxa de variação homóloga do IPC, medida para um determinado mês, compara o IPC desse mês com o IPC registado no mesmo mês do ano anterior. Assim, o valor de -0,4% verificado em Março de 2009, obtém-se pela comparação do IPC desse mês (99,5) com o valor de 99,9 registado pelo IPC em Março de 2008 [(99,5-99,9)/99,9 x 100 = -0,4%].
Estaremos, então, em deflação?
Por oposição a inflação, a deflação corresponde a uma redução geral, ou abrangente, dos preços dos bens e serviços ao longo de um período de tempo prolongado. Ora não foi exactamente isso que se passou.
O IPC é um indicador da variação dos preços mas em termos médios, podendo os preços dos vários bens e serviços evoluir de formas diversas. E foi o que aconteceu. Tomando Abril como referência, entre Abril de 2008 e Abril de 2009 verificou-se uma queda (em média) considerável nos preços da classe 7 (Transportes), reflectindo sobretudo a significativa redução ocorrida nos preços dos combustíveis. Os preços de outras classes também caíram (em média), como os da classe 1 (Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas) e da classe 9 (Lazer, recreação e cultura), mas em muito menor dimensão. Em contrapartida, os preços dos bens e serviços de outras classes aumentaram, em média, como, por exemplo, os das classes 4 (Habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis ) e 11 (Restaurantes e hotéis).
Como a variação homóloga em Abril de 2009 foi de -0,5%, isto significa que a redução verificada, em média, nos preços de algumas classes, superou o acréscimo registado, em média, noutras classes.
Não se trata ainda, pois, e para já, de uma queda generalizada dos preços dos bens e serviços. Não deixa de ser, no entanto, uma situação anormal (a qual resulta certamente, em larga medida, da actual conjuntura económica, com uma manifesta crise de procura) que merece toda a atenção. É que um eventual fenómeno de deflação comporta perigos que é fundamental evitar.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
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2 comentários:
Caro Professor,
Gostei pouco do seu post, onde devia continuar... infelizmente acaba!!!
«É que um eventual fenómeno de deflação comporta perigos que é fundamental evitar.» Porquê? pergunto eu que sou um leigo das economias.
Penso que o que o autor do post quis dizer com a frase «É que um eventual fenómeno de deflação comporta perigos que é fundamental evitar.», foi o seguinte: Se os preços começarem a baixar, o consumidor começa a retrair-se na aquisição de bens, pensando sempre que amanhã poderá comprar mais barato, se todos assim fizermos a economia para ou regride, claro que não estou a falar na compra de bens de primeira necessidade, esses temos que os comprar todos os dias, estou a falar em bens como a casa, o carro, um terreno, etc
Carlos Pereira
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