quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ainda a questão da literacia financeira...

No actual cenário de crise económico-financeiro e numa altura em que nos preparamos para “sentir na pele” os efeitos das medidas de austeridade aprovadas pelo estado português, torna-se ainda mais importante destacar aspectos, acontecimentos, eventos, etc., que possam ajudar o cidadão comum a enfrentar os tempos difíceis (ou melhor, ainda mais difíceis) que se avizinham num futuro próximo.
Neste contexto, queria deixar aqui uma breve referência a um projecto que, apesar de não constituir uma novidade, talvez nos possa vir a ser útil. Trata-se do projecto “Dolceta”. O objectivo deste projecto, que é apoiado pela Comissão Europeia, é informar os cidadãos sobre os seus direitos, nas mais diversas áreas, de modo a ajudar a prepará-los para tomar decisões conscientes e adequadas no seu dia-a-dia.
O “Dolceta” constitui então um sítio electrónico de educação do consumidor (http://www.dolceta.eu), com versões escritas em 21 idiomas para os 27 países da União Europeia (onde, naturalmente, se inclui o português). Apresenta informação numa linguagem acessível, na forma de artigos, material didáctico, possuindo também ferramentas e testes interactivos para testar os conhecimentos do cibernauta. Neste sítio electrónico podemos encontrar informações sobre: direitos dos consumidores, serviços financeiros, segurança dos produtos, consumo sustentável e serviços de interesse geral (electricidade, gás, transportes, etc.).
Todavia, este sítio electrónico não se encontra apenas vocacionado para o cidadão consumidor. Poderá também ser útil para organizações de consumidores, ONG’s (organizações não governamentais) e PME’s (Micro, Pequenas e Médias Empresas), na medida em que poderá constituir uma ferramenta de referência para trabalhar com clientes e funcionários. Além disso, poderá ser de especial utilidade para professores e formadores (sobretudo para professores dos ensinos básico, secundário e de educação de adultos), já que se poderão encontrar (numa área criada exclusivamente para o efeito) propostas de planos de aula, fichas, materiais de apoio, ferramentas, questionários, jogos, etc., que poderão ser utilizados em diversas áreas curriculares (economia, matemática, finanças, formação cívica, …).
Em suma, de modo a enfrentarmos os tempos difíceis que se avizinham, todas as ajudas são bem-vindas. Todavia, talvez uma das melhores ajudas que poderemos dar a nós próprios é mantermo-nos informados, “educados” nos mais diversos domínios, de modo a tomarmos decisões ponderadas, conscientes e adequadas no nosso quotidiano. O ideal mesmo seria não só realizarmos essa tarefa, mas também divulgar esta mensagem aos nossos filhos, aos nossos amigos, aos nossos colegas de trabalho e, obviamente, no caso dos professores e formadores, aos alunos. Tal como diz um muito acertado provérbio chinês: “melhor do que dar um peixe, é ensinar a pescar”…

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contabilidade – o que é e para que serve? Parte I

A Contabilidade está ligada às primeiras manifestações humanas. Surge da necessidade do homem controlar os seus pertences, o seu património. Ao longo dos tempos, a contabilidade passou por várias fases evolutivas: desde os rudimentares registos encontrados nas paredes das cavernas até à actualidade, considerada um ramo das ciências sociais.

Surgiu da necessidade de afirmação social do homem, da sua protecção à posse, perpetuação e interpretação dos factos ocorridos, com o objectivo de alcançar os fins a que se propôs.

Segundo historiadores e pesquisadores arqueológicos, já os incas, os gregos, os fenícios, os romanos, os egípcios, cada um, de acordo com o seu tempo, época e à sua maneira, usavam princípios e normas conducentes ao controlo dos orçamentos e à arrecadação de impostos, incluindo a escrituração em livros próprios. Estes princípios e normas foram a origem dos actuais princípios contabilísticos geralmente aceites, que não são mais que normas de aplicação generalizada que extravasam a aplicação da lei e que incluem as normas de comportamento ético e deontológico.

Já na época do feudalismo, os grandes senhores feudais, proprietários de grandes terras, praticavam uma espécie de “contabilidade familiar”, como mero passatempo. Exerciam um controlo fiel das suas terras arrendadas aos colonos, das colheitas e até dos objectos de uso pessoal, como pratas, adornos e utensílios domésticos.

Todos estes registos eram efectuados como escrita natural ou simples apontamentos, sem a preocupação científica de se estabelecer uma relação entre DÉBITOS (bens e direitos; e diminuições de obrigações) e CRÉDITOS (obrigações; e diminuições de bens e direitos).

O pensamento contabilístico desenvolveu-se durante a Idade Média até ao surgimento, em 1494, do Tractatus de Computis et Scripturis Scripturis (Contabilidade, princípio das partidas dobradas), de Frei Luca Pacioli. Apesar da sua evolução ao longo dos tempos, hoje ainda se faz a Contabilidade usando o princípio das “partidas dobradas” – o total dos valores registados a DÉBITO é igual ao total dos valores registados a CRÉDITO.

A Contabilidade é uma ciência social e tem por objecto o Património. Através de uma metodologia própria, gera informações quantitativas e qualitativas sobre determinada entidade, expressas em termos físicos e monetários. Trata-se de um sistema de recolha, classificação, interpretação e divulgação de dados económicos, financeiros e monetários.

A informação contabilística pode expressar-se de diversas formas: registos permanentes e sistemáticos de factos patrimoniais, devidamente documentados, contas correntes, balancetes, listagens, notas explicativas, mapas, gráficos, pareceres, relatórios de diagnóstico e de prognóstico, descrições críticas e qualquer outro meio analítico e comparativo, quer sejam ou não exigidos pela legislação vigente. Cada Entidade deve providenciar a informação adequada às suas próprias necessidades de gestão.

As informações geradas pela Contabilidade levam à compreensão do estado real em que se encontra a Entidade, do seu desempenho, da sua evolução, permitindo uma visão dos seus riscos e oportunidades.

É esta visão, ao mesmo tempo global e particular, que fornece aos diferentes utentes uma base segura (porque elaborada a partir de normas obrigatórias) para a sua tomada de decisão: investidores, empregados, financiadores (incluindo a banca), fornecedores, clientes, Estado e o público em geral. Hoje é mais fácil ter acesso à informação de qualquer Entidade através da Informação Empresarial Simplificada (IES).

Para satisfazer as necessidades comuns dos diferentes utentes, e tendo em conta que os seus interesses nem sempre são coincidentes, a informação contabilística deve reflectir a imagem verdadeira e apropriada da Entidade, não privilegiando deliberadamente os interesses de nenhum deles, individualmente ou de grupo.

A contabilidade apenas regista factos, não os cria.

A contabilidade não gere as entidades, no entanto permite extrair informação útil e atempada, indispensável à tomada de decisão de qualquer gestor, seja qual for a dimensão da Entidade. É, pois, um instrumento de gestão indispensável para qualquer organização.