As empresas existem para satisfazer necessidades que de outro modo se conseguiriam com menor eficiência e, consequentemente, com maior dispêndio para os consumidores.
Quando alguém diz “(…) a empresa é minha com ela eu faço o que quero (…)” tal choca com o interesse social da empresa de satisfação de uma necessidade.
O lucro que gera tem como finalidade compensá-la pelos recursos aplicados, pagar os impostos e, por último, repor a capacidade de geração de novos recursos. O lucro não pode nem deve, mesmo se possível, ilimitado.
Antigamente, o lucro regulava-se pelo funcionamento do mercado e, também, por auto-controlo baseado na moral da época, nos conceitos de avareza e usura, etc.
Por exemplo, qualquer negócio de comércio a retalho há umas dezenas de anos atrás, fixava o preço a praticar acrescentando ao custo uma margem máxima de 30 %.
Hoje este raciocínio já não tem razão de ser mas tal não significa que a empresa possa definir a margem de lucro que lhe apeteça. Naturalmente, o mercado encarrega-se desta auto-limitação. Mas não chega.
Se o mercado em que se actua é, formal ou informalmente, monopolista, até porque o seu negócio corresponde aos designados serviços públicos apesar de geridos numa lógica privada, em Portugal criou-se a figura das “Entidades Reguladoras” para, entre outros objectivos, controlar estas situações.
A prática tem demonstrado que estas entidades podem servir para justificar outros objectivos mas não, certamente, o de serem “reguladores”.
Se não há limites para as margens de lucro sendo tudo licito desde que os consumidores paguem, então quanto maior o lucro melhores os gestores pois os lucros são sempre crescentes, mesmo que à custa da prática de preços exorbitantes.
O que passa a ser fundamental não contempla a função social mas tão só a crescente capacidade de retorno para os accionistas.
Nesta lógica é natural que se os lucros podem não ter limite, então também as remunerações dos gestores que definem e implementam as estratégias não têm limites.
Os gestores formados e preparados muitas vezes com o apoio de fundos públicos têm agora direito ao reconhecimento social e a obterem remunerações, num ano, que seriam uma excelente remuneração para a maioria das pessoas, ao longo de toda uma vida de trabalho.
Na vida não vale tudo mesmo que, em certas situações, possa parecer que tudo seja possível.
A remuneração dos gestores, tal como a de outra qualquer profissão tem que ter um limite que, sem pôr em causa os princípios do alinhamento com os interesses dos accionistas e sem deixar de ter um carácter variável com o nível de desempenho, assegure também princípios de equidade, de transparência e de justiça social.
Carlos Rua
2010-04-17
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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