(Nota prévia: este artigo foi publicado no jornal E-notícia, da Associação de Estudantes da ESTGV - edição de Abril/2010)
Dirigindo-se este jornal, sobretudo, a alunos da ESTGV (alunos de engenharia e gestão em sentido amplo) parece-me oportuno abordar um tema que considero de grande importância para qualquer cidadão e, em especial para alunos do ensino superior, independentemente do curso que frequentam. Refiro-me à questão da (i)literacia financeira. Considero que qualquer cidadão deveria possuir um conjunto de conhecimentos financeiros mínimos. Isso deveria competir à Escola (entenda-se, ao sistema de ensino). Na sociedade actual, goste-se ou não, o relacionamento com os bancos é incontornável, quer ao nível profissional, quer particular. Esta relação é muito assimétrica: uma das partes (o cliente) tem muito menos informação (conhecimento) do que a outra (o banco) ficando, por isso, numa situação de grande fragilidade. Fala-se, hoje, muito do problema do sobreendividamento e atribui-se normalmente a culpa à banca. Concordo, mas creio que há mais responsáveis. As próprias pessoas, claro, mas também o Estado, na medida em que não lhes proporciona a mais pequena sensibilização para estes problemas. De facto, o actual quadro do sistema de ensino pura e simplesmente ignora a sensibilização das crianças e jovens para as questões ligadas ao dinheiro. O Estado tem preferido legislar, legislar, legislar. Mas por muito que se legisle, nunca se legisla tudo. Além disso, a legislação não é, quase nunca, preventiva; pretende antes ser curativa, ou seja, aparece para resolver um problema que já se manifestou, não para o prevenir. Na verdade, ela nem sequer é verdadeiramente curativa, mas sim paliativa. Entendo convictamente que seria preferível educar as pessoas, começando pelas crianças e jovens. Sucede que nem sequer aos estudantes que, no 10º ano, optam por Estudos Socioeconómicos são facultados ensinamentos financeiros básicos! O que se passa actualmente é que o país está a formar jovens adultos completamente iletrados do ponto de vista financeiro. Perante isto, será de admirar que haja cada vez mais pessoas sobreendividadas?
Este estado de coisas estende-se, depois, pelo percurso universitário. É compreensível que, com a cada vez menor duração das licenciaturas, o tempo nem sequer chegue para abordar o essencial de cada curso, quanto mais para abordar outros temas, entendidos como laterais. Isto sugere-me duas reflexões:
1. Não concordo que os assuntos de índole financeira a que me refiro devam ser considerados laterais; considero, pelo contrário, que eles devem ser considerados transversais, ou seja, que interessam e são importantes para qualquer futuro diplomado;
2. Ainda que não fazendo parte dos planos de estudos obrigatórios de todos os cursos, creio que poderiam ser oferecidos como opção ou, no limite, como “curso breve”, passível de referência no Suplemento ao Diploma dos estudantes que os frequentassem.
E que assuntos seriam esses? Eis alguns exemplos:
- O que é e como é calculada a Euribor? O que é o “spread”?
- O que significa taxa nominal, taxa efectiva, capitalização de juros, taxa bruta, taxa líquida?
- Como são calculados os juros dos depósitos? E dos empréstimos? Há legislação específica sobre isto?
- Como é que o banco calcula o valor das prestações associadas a um financiamento, tanto a nível profissional como particular (leasing e crédito habitação, por exemplo)?
- Como devo escolher entre várias propostas de financiamento? Que factores devo ter em consideração?
- O que posso fazer para baixar o valor da prestação relativa a um empréstimo? Quais os impactos a outros níveis?
- Se conseguir efectuar determinada amortização extraordinária, quanto fico a pagar a menos em cada prestação? Quanto poupo, com isso, no final?
- Como posso avaliar se determinado investimento é interessante ou não? Que limitações tem essa avaliação?
Estes (e muitos outros) são temas habitualmente abordados numa disciplina (ou “unidade curricular”, como se passou a dizer em bolonhês) que faz parte da maioria das licenciaturas (e mesmo Pós-Graduações) em Gestão e afins, designada Cálculo Financeiro. É o que acontece na ESTGV, nas licenciaturas em Gestão de Empresas e Contabilidade e Administração.
Dirão que estou a chegar a brasa à minha sardinha mas repito: convictamente, penso que estes assuntos são suficientemente interessantes e importantes para fazerem parte do plano de estudos de qualquer licenciatura, E quando digo “qualquer” quero mesmo dizer “qualquer”. Todas! Evidentemente, com alguns ajustamentos em termos de conteúdos e carga horária. Digo mais: de todas as unidades curriculares de todos os cursos, esta é certamente das que têm mais utilidade prática para o futuro, independentemente da profissão que vier a ser exercida. Ela fornece um conjunto de conceitos que hoje deveriam ser considerados básicos para o exercício da cidadania, mais do que simplesmente úteis para o exercício de uma ou outra profissão.
A este respeito cabe referir que o Departamento de Gestão da ESTGV (dGest) tem promovido, nos últimos anos, alguns cursos breves nesta área. Um deles é o curso “Noções Fundamentais de Cálculo Financeiro para Futuros Engenheiros”, que este ano terá a sua terceira edição. Trata-se de um curso de aproximadamente 10 horas, dirigido a alunos finalistas de qualquer curso de Engenharia da Escola. A sua frequência é gratuita. Nele serão abordados os conceitos e temas atrás referidos. No fundo, é um modesto contributo do Departamento de Gestão no sentido de promover a literacia financeira dos futuros engenheiros diplomados pela ESTGV.
Dirigindo-se este jornal, sobretudo, a alunos da ESTGV (alunos de engenharia e gestão em sentido amplo) parece-me oportuno abordar um tema que considero de grande importância para qualquer cidadão e, em especial para alunos do ensino superior, independentemente do curso que frequentam. Refiro-me à questão da (i)literacia financeira. Considero que qualquer cidadão deveria possuir um conjunto de conhecimentos financeiros mínimos. Isso deveria competir à Escola (entenda-se, ao sistema de ensino). Na sociedade actual, goste-se ou não, o relacionamento com os bancos é incontornável, quer ao nível profissional, quer particular. Esta relação é muito assimétrica: uma das partes (o cliente) tem muito menos informação (conhecimento) do que a outra (o banco) ficando, por isso, numa situação de grande fragilidade. Fala-se, hoje, muito do problema do sobreendividamento e atribui-se normalmente a culpa à banca. Concordo, mas creio que há mais responsáveis. As próprias pessoas, claro, mas também o Estado, na medida em que não lhes proporciona a mais pequena sensibilização para estes problemas. De facto, o actual quadro do sistema de ensino pura e simplesmente ignora a sensibilização das crianças e jovens para as questões ligadas ao dinheiro. O Estado tem preferido legislar, legislar, legislar. Mas por muito que se legisle, nunca se legisla tudo. Além disso, a legislação não é, quase nunca, preventiva; pretende antes ser curativa, ou seja, aparece para resolver um problema que já se manifestou, não para o prevenir. Na verdade, ela nem sequer é verdadeiramente curativa, mas sim paliativa. Entendo convictamente que seria preferível educar as pessoas, começando pelas crianças e jovens. Sucede que nem sequer aos estudantes que, no 10º ano, optam por Estudos Socioeconómicos são facultados ensinamentos financeiros básicos! O que se passa actualmente é que o país está a formar jovens adultos completamente iletrados do ponto de vista financeiro. Perante isto, será de admirar que haja cada vez mais pessoas sobreendividadas?
Este estado de coisas estende-se, depois, pelo percurso universitário. É compreensível que, com a cada vez menor duração das licenciaturas, o tempo nem sequer chegue para abordar o essencial de cada curso, quanto mais para abordar outros temas, entendidos como laterais. Isto sugere-me duas reflexões:
1. Não concordo que os assuntos de índole financeira a que me refiro devam ser considerados laterais; considero, pelo contrário, que eles devem ser considerados transversais, ou seja, que interessam e são importantes para qualquer futuro diplomado;
2. Ainda que não fazendo parte dos planos de estudos obrigatórios de todos os cursos, creio que poderiam ser oferecidos como opção ou, no limite, como “curso breve”, passível de referência no Suplemento ao Diploma dos estudantes que os frequentassem.
E que assuntos seriam esses? Eis alguns exemplos:
- O que é e como é calculada a Euribor? O que é o “spread”?
- O que significa taxa nominal, taxa efectiva, capitalização de juros, taxa bruta, taxa líquida?
- Como são calculados os juros dos depósitos? E dos empréstimos? Há legislação específica sobre isto?
- Como é que o banco calcula o valor das prestações associadas a um financiamento, tanto a nível profissional como particular (leasing e crédito habitação, por exemplo)?
- Como devo escolher entre várias propostas de financiamento? Que factores devo ter em consideração?
- O que posso fazer para baixar o valor da prestação relativa a um empréstimo? Quais os impactos a outros níveis?
- Se conseguir efectuar determinada amortização extraordinária, quanto fico a pagar a menos em cada prestação? Quanto poupo, com isso, no final?
- Como posso avaliar se determinado investimento é interessante ou não? Que limitações tem essa avaliação?
Estes (e muitos outros) são temas habitualmente abordados numa disciplina (ou “unidade curricular”, como se passou a dizer em bolonhês) que faz parte da maioria das licenciaturas (e mesmo Pós-Graduações) em Gestão e afins, designada Cálculo Financeiro. É o que acontece na ESTGV, nas licenciaturas em Gestão de Empresas e Contabilidade e Administração.
Dirão que estou a chegar a brasa à minha sardinha mas repito: convictamente, penso que estes assuntos são suficientemente interessantes e importantes para fazerem parte do plano de estudos de qualquer licenciatura, E quando digo “qualquer” quero mesmo dizer “qualquer”. Todas! Evidentemente, com alguns ajustamentos em termos de conteúdos e carga horária. Digo mais: de todas as unidades curriculares de todos os cursos, esta é certamente das que têm mais utilidade prática para o futuro, independentemente da profissão que vier a ser exercida. Ela fornece um conjunto de conceitos que hoje deveriam ser considerados básicos para o exercício da cidadania, mais do que simplesmente úteis para o exercício de uma ou outra profissão.
A este respeito cabe referir que o Departamento de Gestão da ESTGV (dGest) tem promovido, nos últimos anos, alguns cursos breves nesta área. Um deles é o curso “Noções Fundamentais de Cálculo Financeiro para Futuros Engenheiros”, que este ano terá a sua terceira edição. Trata-se de um curso de aproximadamente 10 horas, dirigido a alunos finalistas de qualquer curso de Engenharia da Escola. A sua frequência é gratuita. Nele serão abordados os conceitos e temas atrás referidos. No fundo, é um modesto contributo do Departamento de Gestão no sentido de promover a literacia financeira dos futuros engenheiros diplomados pela ESTGV.
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