A mais recente crise
à escala global veio reforçar a preocupação de muitos organismos e entidades
(nacionais e supranacionais) com a literacia financeira.
A título meramente
exemplificativo podemos referir, entre nós, o inquéritoà literacia financeira da população levado a cabo pelo Banco de Portugal em
2010 e a publicação do Plano Nacional de Formação Financeira em 2011, da responsabilidade dos três reguladores
financeiros portugueses, Banco de Portugal (BdP), Comissão do Mercado de
Valores Mobiliários (CMVM) e Instituto de Seguros de Portugal (ISP). A nível
internacional, organismos como a OCDE,
a Comissão Europeia e o Banco Mundial têm igualmente vindo a mostrar grande preocupação com a questão da
literacia financeira.
Um estudo recente
(2012) levado a cabo pelo Banco Mundial (Literacia financeira e a crise financeira) revela resultados interessantes. O estudo
baseou-se num conjunto de dados da Rússia, onde os empréstimos ao consumo
cresceram de 10 mil milhões de dólares para mais de 170 mil milhões de dólares
entre 2003 e 2008. Algumas conclusões deste estudo: apesar deste aumento brutal
de recurso ao crédito, apenas cerca de 40% dos inquiridos compreende o
significado de “juro composto” e 45% dos inquiridos consegue responder a uma
questão simples sobre inflação. Por outro lado, conclui-se que pessoas com
maiores conhecimentos financeiros tendem a poupar mais, sobretudo em épocas de
crise, o que sugere que maior literacia financeira prepara melhora as pessoas
para lidar com choques macroeconómicos.
Na
sociedade atual o recurso a instrumentos financeiros (quer na ótica do
financiamento, quer na ótica do investimento) é praticamente incontornável.
Isto bastaria para que a educação financeira da população constituísse uma
prioridade, sobretudo dos governos das nações. Como já por mais de uma vez
manifestámos, este papel deveria competir, em primeira instância, à Escola, ao
sistema de ensino, e deveria começar a sensibilizar os estudantes logo desde o
momento em que nele ingressam e ao longo de todo o seu percurso académico. A
complexidade dos produtos financeiros, a forte concorrência entre instituições
e, em muitos casos, a pouca ética subjacente ao negócio reforçam esta
necessidade. O Plano Nacional de Formação Financeira é um documento meritório.
As medidas nele preconizadas têm vindo a ser executadas, talvez de forma não
tão célere como certamente todos gostaríamos, mas ainda assim, percebe-se que o
projeto não está parado. Em alguns aspetos, muitas entidades são chamadas a participar (não apenas as escolas, mas também outras instituições de formação, associações sindicais, entidades patronais, juntas de freguesia e outras).
Hoje vamos falar de
uma iniciativa da DECO – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, com
o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Direção Geral do
Consumidor que merece ser divulgada, nomeadamente junto das escolas básicas e
secundárias, uma vez que pode ser interessante como instrumento de apoio em algumas
disciplinas ou outros contextos, na linha do preconizado no Plano Nacional de
Formação Financeira.
Referimo-nos ao projeto
“Gerir e Poupar” (www.gerirepoupar.com).
A página tem duas grandes áreas, uma dirigida a crianças e jovens entre os 6 e
os 12 anos e a outra mais vocacionada para jovens de idade superior. Na
primeira são abordados temas como o Euro, aprender a gerir o dinheiro, saber
usar o dinheiro e gerir a semanada. Em alguns casos são propostas atividades
interativas (pequenos jogos) com um personagem animado, o Guito. Na segunda são
abordados temas como o dinheiro, como ganhar dinheiro, gerir o dinheiro, poupar
e investir e o crédito. De um modo geral, a partir de um pequeno filme que
ilustra uma situação específica, são explicados os conceitos subjacentes, com
preocupações pedagógicas, terminando com um breve teste de avaliação dos
conhecimentos. Há ainda uma secção final com diversas recomendações e cuidados
a ter. A página é complementada com um blogue, já com várias entradas em todos
os temas tratados.
Como lá é dito, “as
pessoas devem adquirir competências financeiras na sua vida o mais cedo
possível e a escola desempenha um papel fundamental nesta educação”. Parece-nos
que o recurso à informação aqui
disponibilizada pode ser útil, não apenas nas escolas, mas também em ambiente
familiar.
Aproveitando o facto
de, aqui, não estarmos sujeitos a restrições tão fortes em termos de dimensão
do artigo como acontece nos jornais nossos parceiros, aproveitamos para referir
e caracterizar sucintamente mais três fontes de informação relacionadas com o
tema deste artigo:
- Dolceta. Projeto financiado
pela Comissão Europeia que pretende promover a Educação do Consumidor através
da internet. Engloba diversos módulos sobre diferentes tópicos relacionados com
o consumo, enter os quais um sobre literacia financeira. As
atividades propostas estão organizadas por áreas curriculares e grupos etários
(Economia, Geografia, Inglês, Matemática, Português, etc.; crianças, jovens e
jovens adultos). Embora não sendo grave, está desatualizado, no sentido em que
ainda contempla a àrea de Projeto e a Formação Cívica, por exemplo. Engloba
propostas de atividades para alunos do 1º ciclo ao secundário. Disponibiliza
textos de apoio e testes online.
- Todos Contam. Portal associado ao Plano Nacional de Formação Financeira. Disponibiliza
muita informação e materiais interessantes, de diversas entidades, sobre
diversos temas, dirigidos a diferentes faixas etárias e uma boa bateria de
simuladores.
- Portal do Cliente Bancário. Diretamente ligado ao Banco de Portugal, disponibiliza
muita informação e alguns simuladores. Dirige-se a um público maioritariamente
adulto.
1 comentário:
O papel da escola pode ser muito útil, mas em casa é que tudo começa. Ou se preferir, uma coordenação entre pais e escola. Antes de estourar esta bomba nas nossas mãos (a crise), e mesmo durante, assisti a muitas crianças, antes da entrada na escola, como moscas coladas às caixas de guloseimas a queimar o dinheiro dos pais. Mas o que mais me impressionou foi ver o que faziam aos poucos cêntimos que recebiam de troco. Farejavam tudo à procura de algo cujo preço coubesse naquela magra quantia (nem que fosse uma porcaria qualquer que ninguém queria), até conseguirem gastar tudo, até ao último cêntimo. Nem lhes passava pela cabeça guardar para juntar ao dia seguinte e comprar algo que realmente desejassem.
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