Em Maio passado, neste mesmo espaço, falámos da queda dos preços, a propósito da redução registada pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), em termos homólogos (comparação do IPC de determinado mês com o IPC do mesmo mês do ano anterior), em Março e Abril de 2009. Conhecidos os valores para Maio e Junho (do Instituto Nacional de Estatística), a tendência de queda mantém-se e até de forma acentuada (-1,2% em Maio e -1,6% em Junho). Apesar disso, continuamos a pensar que não estamos ainda num quadro de deflação, por não se tratar de uma queda abrangente e generalizada dos preços (aquela evolução é explicada essencialmente pela redução dos preços de alguns bens da classe dos Transportes, particularmente dos combustíveis, e da classe dos Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas) e por o espaço temporal ser ainda curto. No entanto e embora acreditando (e desejando) que não se chegue a uma situação de efectiva deflação, trata-se de uma evolução a ter em conta, pelo que importa ter consciência de algumas dificuldades e perigos que poderiam colocar-se nessas circunstâncias.
São várias e diversas as dificuldades e perigos decorrentes da deflação. Neste curto espaço referiremos apenas algumas.
Uma primeira dificuldade decorre da novidade da situação, ou seja, do facto de os agentes económicos não estarem habituados a conviver com deflação (os últimos anos foram de inflação moderada).
Por outro lado, e se a redução dos preços, em termos moderados e por um período curto, pode estimular a procura, num cenário de queda mais abrangente e duradoura dos preços (deflação) os indivíduos tenderão a reduzir o consumo (mais fortemente em bens não essenciais), na expectativa de conseguirem preços mais baixos no futuro. Analogamente, também os investidores, nomeadamente as empresas, adiarão algumas decisões de investimento (equipamentos, instalações, etc.). Destes adiamentos de consumo e investimento decorre, naturalmente, a redução da procura, o que prejudicará a produção e o emprego.
Uma outra dificuldade advém de, num cenário de deflação, a capacidade de intervenção das autoridades ao nível da política monetária ser fortemente condicionada. O Banco Central Europeu, BCE, define a estabilidade dos preços como um aumento homólogo dos preços inferior a 2%, mas próximo de 2%. Esta referência explícita a um valor próximo de 2% é, assumidamente, uma margem de segurança contra a deflação. É que num cenário de deflação, associado porventura a uma recessão económica em que se justifiquem medidas expansionistas da procura (nomeadamente do consumo e do investimento), uma das intervenções de política monetária mais poderosas consiste na redução do preço do dinheiro (taxa de juro). Só que essa redução tem um limite, que é zero, pois não faria sentido a existência de taxas de juro nominais negativas (pelo simples facto de, nesse caso, os agentes preferirem conservar moeda, em vez de concederem empréstimos ou efectuarem depósitos).
Por estas e outras razões, importa procurar evitar que se caminhe para uma situação de efectiva deflação.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
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1 comentário:
Caro Dr. Simões,
Nem este magnifico verão me tira as saudades que tenho das aulas de macro-economia!!.
Gostava de acrescentar um outro angulo na analise da Deflação.
A ausência de crédito, a redução no consumo e a deslocação das preferencias dos consumidores para os produtos de 1º Preço, está a colocar as empresas numa situção de enorme dificuldade.
Assim para não pararem a produção ou mesmo fecharem vendem, a qualquer preço, na espectativa de no futuro poderem recuperar.
Os decisores politicos afirmam que não existe perigo de deflacção, mas os numeros continuam em queda, provando que a "euro-esclurose" está instalada. Certamente pensando que isto passa, esquecendo que o MERCADO está tão instável que a Mão Invisivel certamente já está penhorada pela DGCI e vai proximamente a Hasta Publica !! ( Desculpem-me a graçola)
Reconhecendo os elevados perigos será que não é altura de começar a tomar medidas REAIS de apoio ás familias ( Aumento do consumo ) as empresas ( Pressão real sobre o sistema bancario para concessão de crédito). Isto é vamos apanhar o bicho pela cabeça e começar, embora tarde, a emitir moeda.
Com ou sem emissão de moeda já sabemos que no espera um periodo de inflação alta ( os deficies existentes acrescidos dos factores de expansão ),então que sejam os politicos pro-activos perante a actual realidade.
Tempos excepcionais requerem medidas excepcionais,tomadas por lideres de excepção.
Cumprimentos e boas férias a todos.
Paulo
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