Cada vez mais e a um ritmo alucinante, procedimentos que deveriam ser apenas um meio para atingir um fim estão a transformar-se num fim em si mesmo. Procedimentos burocráticos inúteis que (só) fazem perder muito tempo e desviar recursos para o acessório, deixando cada vez menos tempo para o essencial.
Há já algum tempo que ando para escrever sobre este tema. O clique final surgiu há dias, ao ler uma notícia em que o Bastonário da Ordem dos Médicos dizia que os clínicos são obrigados a “colocar o computador no centro das consultas”, prejudicando a assistência ao doente. Nas suas próprias palavras, “é uma farsa imposta por burocratas para justificarem a sua própria existência”. Segundo a notícia, médicos com listas de 1900 doentes são obrigados a preencher cada vez mais itens no computador e, por isso, não têm tempo para realmente observarem os doentes. O Bastonário questionava ainda os ganhos em saúde que resultam destes indicadores, mas afirmava não ter dúvidas de que a relação médico-doente sai prejudicada.
Ora isto é exatamente o que tenho vindo a constatar, sobretudo na Educação, mas não só.
A maioria das pessoas não tem certamente esta perceção, mas os professores trabalham cada vez mais horas e têm cada vez menos tempo disponível para aquilo que deveria ser a sua ocupação (e preocupação) principal: as aulas e os alunos. É quase insano o que se passa. Tanto quanto sei, isto começou a acentuar-se no Secundário há alguns anos e recentemente chegou ao Superior. Muitos docentes, sobretudo aqueles que ocupam cargos, são obrigados a relegar as aulas e os alunos para o final da lista das suas preocupações porque o seu dia a dia é preenchido com tarefas acessórias, meramente burocráticas, absolutamente desmotivantes e sem qualquer (ou, vá lá, com reduzíssima) utilidade prática, real. O que deveria ser apenas um meio acaba por se transformar num fim em si mesmo. Faz-se uma quantidade de coisas apenas porque sim. Para arquivar. Uma vez arquivado, toda a gente fica “feliz”. O facto de isso não servir para nada é apenas um detalhe. Tal como os custos e os resultados associados.
Afinal de contas, para que existe a Escola? Quem deve realmente servir? Como (a que fim) deve ser alocada a maior parte do tempo de trabalho semanal de um docente? A propósito: quase ninguém faz a mínima ideia de quanto tempo trabalha um docente. Quantas horas por dia e quantos dias por semana. Posso afiançar que é muito mais do que a esmagadora maioria das pessoas pensa. Mas o que é realmente grave é que apenas uma parte relativamente pequena desse tempo é dedicada àquilo que realmente deveria ser o seu foco de preocupação: o ensino propriamente dito.
Eu decidi recentemente largar todos os cargos que ocupava na minha Escola e ser “apenas” docente, quando dei por mim a dedicar a maior parte do meu dia (e uma grande parte da noite) a tarefas burocráticas inúteis e desmotivantes, obrigando-me a ter de fazer aquilo que considero ser essencial em horas e dias impróprios. Aquilo e aqueles que eu considero essenciais nesta profissão (o ensino e os alunos) estavam a sair prejudicados por toda uma carga de tarefas que, na verdade, parecem servir apenas para alguns burocratas justificarem a sua própria existência. Fi-lo por respeito aos meus alunos e a mim mesmo. Sim, eu preciso de ter tempo, não apenas para eles, mas também para mim, que diabo!... E a verdade é que estava a distrair-me da vida (Manuel Forjaz, lembram-se?…).
Do que vou sabendo, passa-se basicamente o mesmo noutros setores da Administração Pública e nas empresas: muitos (e cada vez mais) recursos estão a ser obrigatoriamente canalizados para dar resposta a coisas inúteis, mas obrigatórias, quando deveriam estar alocados a criar valor. A estúpida burocracia que se tem acentuado nos últimos anos, penso que de forma transversal a todos os setores da sociedade, está a infernizar a vida das pessoas, que se estão a deixar ir na onda, qual sapo em lume brando. Atrever-me-ia a perguntar-lhe: quantas horas por semana tem para si, para viver a sua vida, depois de descontadas aquelas que dedica ao trabalho e às suas necessidades mais básicas como comer e dormir?
Caramba, algo vai mal, muito mal, quando o foco da atenção do médico não é o doente e o do professor não é o aluno!...
Há já algum tempo que ando para escrever sobre este tema. O clique final surgiu há dias, ao ler uma notícia em que o Bastonário da Ordem dos Médicos dizia que os clínicos são obrigados a “colocar o computador no centro das consultas”, prejudicando a assistência ao doente. Nas suas próprias palavras, “é uma farsa imposta por burocratas para justificarem a sua própria existência”. Segundo a notícia, médicos com listas de 1900 doentes são obrigados a preencher cada vez mais itens no computador e, por isso, não têm tempo para realmente observarem os doentes. O Bastonário questionava ainda os ganhos em saúde que resultam destes indicadores, mas afirmava não ter dúvidas de que a relação médico-doente sai prejudicada.
Ora isto é exatamente o que tenho vindo a constatar, sobretudo na Educação, mas não só.
A maioria das pessoas não tem certamente esta perceção, mas os professores trabalham cada vez mais horas e têm cada vez menos tempo disponível para aquilo que deveria ser a sua ocupação (e preocupação) principal: as aulas e os alunos. É quase insano o que se passa. Tanto quanto sei, isto começou a acentuar-se no Secundário há alguns anos e recentemente chegou ao Superior. Muitos docentes, sobretudo aqueles que ocupam cargos, são obrigados a relegar as aulas e os alunos para o final da lista das suas preocupações porque o seu dia a dia é preenchido com tarefas acessórias, meramente burocráticas, absolutamente desmotivantes e sem qualquer (ou, vá lá, com reduzíssima) utilidade prática, real. O que deveria ser apenas um meio acaba por se transformar num fim em si mesmo. Faz-se uma quantidade de coisas apenas porque sim. Para arquivar. Uma vez arquivado, toda a gente fica “feliz”. O facto de isso não servir para nada é apenas um detalhe. Tal como os custos e os resultados associados.
Afinal de contas, para que existe a Escola? Quem deve realmente servir? Como (a que fim) deve ser alocada a maior parte do tempo de trabalho semanal de um docente? A propósito: quase ninguém faz a mínima ideia de quanto tempo trabalha um docente. Quantas horas por dia e quantos dias por semana. Posso afiançar que é muito mais do que a esmagadora maioria das pessoas pensa. Mas o que é realmente grave é que apenas uma parte relativamente pequena desse tempo é dedicada àquilo que realmente deveria ser o seu foco de preocupação: o ensino propriamente dito.
Eu decidi recentemente largar todos os cargos que ocupava na minha Escola e ser “apenas” docente, quando dei por mim a dedicar a maior parte do meu dia (e uma grande parte da noite) a tarefas burocráticas inúteis e desmotivantes, obrigando-me a ter de fazer aquilo que considero ser essencial em horas e dias impróprios. Aquilo e aqueles que eu considero essenciais nesta profissão (o ensino e os alunos) estavam a sair prejudicados por toda uma carga de tarefas que, na verdade, parecem servir apenas para alguns burocratas justificarem a sua própria existência. Fi-lo por respeito aos meus alunos e a mim mesmo. Sim, eu preciso de ter tempo, não apenas para eles, mas também para mim, que diabo!... E a verdade é que estava a distrair-me da vida (Manuel Forjaz, lembram-se?…).
Do que vou sabendo, passa-se basicamente o mesmo noutros setores da Administração Pública e nas empresas: muitos (e cada vez mais) recursos estão a ser obrigatoriamente canalizados para dar resposta a coisas inúteis, mas obrigatórias, quando deveriam estar alocados a criar valor. A estúpida burocracia que se tem acentuado nos últimos anos, penso que de forma transversal a todos os setores da sociedade, está a infernizar a vida das pessoas, que se estão a deixar ir na onda, qual sapo em lume brando. Atrever-me-ia a perguntar-lhe: quantas horas por semana tem para si, para viver a sua vida, depois de descontadas aquelas que dedica ao trabalho e às suas necessidades mais básicas como comer e dormir?
Caramba, algo vai mal, muito mal, quando o foco da atenção do médico não é o doente e o do professor não é o aluno!...
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