terça-feira, 13 de abril de 2010

A Ditadura do Curto Prazo (I)

No meu habitual “zapping” pelos canais televisivos, chamou-me à atenção uma entrevista que estava a ser dada por um autor que não conhecia: Michael Lewis[1]. Apresentava ele, o seu último livro, “The Big Short”. É um livro sobre a última crise nos mercados financeiros mundiais. Obviamente, o autor alude, no título do livro, à técnica de “short selling”[2] nos mercados financeiros, à ânsia de ganho de muito dinheiro, no mais curto espaço de tempo e refere-se aos grandes especuladores, heróis, de outros tempos, de muitas entidades financeiras que tinham de atingir os objectivos de arrecadação de resultados avultados a muito curto prazo e que, no auge da tempestade financeira que criaram, se “afastaram” com altíssimas fortunas pessoais. No entanto, o que me pareceu mais preocupante, na sua entrevista (ainda não li o livro e por isso não posso dizer se nele se encontra presente esta ideia), foi a afirmação de que existe já um apagamento da memória, quer das instituições, quer dos investidores, quer dos consumidores. Os tais heróis dos mercados financeiros (altos especialistas em produtos financeiros complexos) estarão de regresso e, para os mesmos lugares.

Porquê? Qual a razão para que nos tempos actuais (final do séc.XX – início do séc.XXI), exista um especial privilégio pelo curto prazo em detrimento do longo prazo? Porquê toda esta voracidade pela obtenção de resultados a curto prazo? Se atentarmos na regra da economia, segundo a qual para que uma economia esteja em equilíbrio o investimento tem de ser igual à poupança, poderemos compreender os desequilíbrios actuais da nossa economia. É que a poupança (comportamento de longo prazo), não chega para o investimento porque o rendimento gerado pela economia é, praticamente todo, destinado ao consumo (comportamento essencialmente de curto prazo). Só o recurso ao endividamento e aos rendimentos provenientes de investimentos especulativos, permitem a escalada do consumo, continuando o ciclo “destrutivo”, até que algum facto extremo o interrompa. Diríamos que estamos perante um paradoxo: por um lado, precisamos dos mercados especulativos para colmatar as necessidades de investimento, por outro lado, são eles que permitem o crescimento do consumo. São os mercados especulativos que têm possibilitado esta ditadura do curto prazo (“consumismo”).

Porque será que não quebramos este ciclo? Não é acabando com os mercados especulativos, eles são necessários para alavancar investimentos reais. É, quebrando a apetência excessiva pelo consumo. É, incentivando à poupança. É, educando cada um de nós, de forma a pensar a longo prazo e a privilegiá-lo.

O curto prazo pode criar a ilusão de que somos todos ricos. O longo prazo tratará de a apagar!



[1] ver http://www.youtube.com/watch?v=5WHrvUf016U

[2] Short selling: O especulador pede emprestado um título a um terceiro e vende-o imediatamente a um comprador. Mais tarde, o especulador paga o que pediu emprestado e compra o título no mercado a um preço mais baixo (se o mercado estiver em queda).

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