quarta-feira, 13 de abril de 2011

Contabilidade – o que é e para que serve? (Continuação)

A contabilidade para ter utilidade, tem de se assumir como um instrumento de gestão indispensável para qualquer organização. Deve ser uma insubstituível fonte interna de informação para suportar a tomada de decisões, e não, o que é para uma grande parte das pequenas empresas, uma mera formalidade legal de custo elevado e cumprimento obrigatório. Qualquer empresário ganharia, em segurança e conhecimento do seu negócio, se soubesse ler e interpretar, ainda que sumariamente, as peças fundamentais da Contabilidade (designadas de Demonstrações Financeiras) e tivesse conhecimentos básicos do cálculo económico e financeiro. É neste ponto que os Técnicos Oficiais de Contas (TOC) podem e devem, também no seu próprio interesse, desempenhar um papel importante na qualificação técnica dos seus clientes.

A contabilidade regista diariamente aos “acontecimentos” do dia-a-dia, cuja leitura e interpretação abordaremos posteriormente. Anualmente, através dos mapas de síntese previstos no Sistema de Normalização Contabilística (SNC), podemos e devemos “ler” a situação da empresa, seja qual for a sua dimensão. Ora, passemos então a referir-nos à informação que podemos obter em cada uma daquelas peças contabilísticas:

· Balanço – “fotografia” da empresa, naquela data – Activo = Capital Próprio + Passivo. Esta expressão constitui o princípio básico da contabilidade, segundo o qual a aquisição do património da empresa (Activo) tem que ser financiada por capitais dos sócios (Capital Próprio) ou por capitais alheios (Passivo). Um outro aspecto fundamental é a relação entre Activo corrente e o Passivo corrente (num prazo inferior a um ano). Se o primeiro for superior ao segundo, a empresa evidencia capacidade para satisfazer os seus compromissos de curto prazo. Caso contrário, é provável que a empresa se veja forçada a recorrer a empréstimos para saldar as suas dívidas mais imediatas.

· Demonstração dos resultados – é um mapa dinâmico que evidencia como são gerados os resultados operacionais, após gastos de financiamento e de impostos do exercício e face ao ano anterior. Permite avaliar a posição económica ou de desempenho da empresa através da relação entre os rendimentos obtidos e os gastos incorridos, permitindo ajuizar acerca da eficácia com que a empresa emprega os seus recursos básicos e adicionais.

· Demonstração dos fluxos de caixa – apesar de não ser obrigatória para as empresas de reduzida dimensão, é um instrumento básico para percepcionar como os fluxos de caixa (entradas e saídas de dinheiro) fluem na empresa, por actividades: operacional, de investimento e de financiamento. Responde a questões de muitos empresários “Como é que tenho lucro e não tenho dinheiro”. Uma empresa pode ter lucro, ou seja, os seus rendimentos são superiores aos gastos, e não ter dinheiro porque o “desvia” das actividades operacionais para o investimento (situação muito comum), ou não recebe atempadamente dos seus clientes (ou vende mesmo a quem não paga (!) entregando, muitas vezes, o IVA antes de o ter recebido dos clientes) de forma a permitir cumprir com as suas obrigações (salários, fornecedores, impostos, empréstimos de bancos).

· Demonstração da alteração dos capitais próprios – mapa que também não é obrigatório para entidades de reduzida dimensão e que evidencia as modificações nos capitais próprios do exercício em relação ao anterior. Visualiza-se de forma imediata como foram produzidas essas alterações, ou seja, das opções de capitalizar ou descapitalizar a empresa.

· Anexo – elemento das demonstrações financeiras que “esclarece” muitos pontos dos mapas anteriores.

Qualquer um destes mapas permite a visualização das alterações do exercício actual com o anterior, incluindo o Anexo.

No próximo artigo continuaremos com a interpretação das opções que o órgão de gestão toma em relação às operações do dia-a-dia.

Isabel Martins

1 comentário:

Carlos Pereira disse...

Realmente, a contabilidade, não é vista por muitos empresários como um instrumento de apoio à tomada de decisão, mas sim como um peso no seu orçamento mensal. Para a formação deste conceito, na minha opinião, muitos factores têm contribuído, tais como: - O desleixo de alguns profissionais, a ideia ainda desactualizada da profissão do Técnico Oficial de Contas (TOC) e, principalmente, a falta de formação de muitos empresários. Quando falo na falta de formação dos empresários, não falo por demérito dos mesmos, mas sim por culpa da administração central. Se um indivíduo, por as mais variadas razoes, se dirigir a uma repartição de finanças para dar inicio a uma actividade profissional, aquilo que faz é preencher uns papéis ficando desde logo a saber se tem que ter um TOC ou não. Se for obrigado a ter TOC, este com o tempo, vai elucidando o empresário para as suas responsabilidades, se pelo contrário, não for obrigado, por Lei, a ter TOC, a vida do empresário complica-se. Sabe-se que um empresário em nome individual em regime de IVA, pode não ser obrigado a ter um TOC, no entanto terá sempre de enviar as decorações periódicas de IVA. Terá o empresário formação para isso? Se a Lei não obriga a ter um TOC, não deveria a Administração Fiscal (A.F.) dar formação ao empresário? Ou só lhes interessa quebrar impostos? Sou da opinião que o TOC é o garante do bom funcionamento da A.F.
O TOC é quem alimenta a maquina fiscal…