Na
sociedade da informação e do conhecimento em que vivemos, e sobretudo no mundo
empresarial, o denominado “capital intelectual” assume uma importância
fundamental. Grandes empresas como a “Apple”,
a “Microsoft”, a “Sony”, entre outras, valem o que valem não pelos bens materiais e
tangíveis (edifícios, terrenos, veículos, máquinas, etc.) que possuem, mas
sobretudo pelos seus recursos humanos (altamente qualificados, responsáveis e
motivados). Naturalmente que estas empresas implementam uma política de
recursos humanos bastante cuidada, que se traduz não apenas na existência de
critérios de recrutamento e seleção muito exigentes, mas também (e talvez
sobretudo) numa ótica de preservação dos recursos humanos mais talentosos
(evitando que possam sair para outras empresas, sobretudo para empresas
concorrentes).
Na minha
opinião, a importância que se deve dar aos recursos humanos deve estender-se
também a uma perspetiva nacional, isto é, não é apenas uma empresa que se deve
preocupar com a captação e retenção de bons recursos humanos, também um país
que tenha ambições de desenvolvimento o deverá fazer (e note-se que
desenvolvimento é bem diferente de crescimento!).
Nos
tempos que correm, parece que os nossos governantes, tão preocupados que
estiveram em fazer “boa figura” perante a troika,
tão preocupados em tornar a garantir o financiamento do Estado português junto
dos mercados financeiros, tão preocupados em diminuir o défice das contas públicas,
estão a contribuir para um aumento substancial do défice de “capital
intelectual” do nosso país, com consequências muito sérias não apenas no curto
prazo, mas também a médio/largo prazo. Desde logo com a política de austeridade
“cega” que está atualmente a ser aplicada, com a crise de confiança que os
cidadãos em geral têm cada vez mais em relação às instituições nacionais, o
nosso país não se afigura minimamente atrativo para “talentos” vindos de outros
países. Além disso, apesar de Portugal ser desde há muito um país de emigrantes,
as atuais características da emigração nada têm a ver com a emigração de anos
anteriores (por exemplo dos anos 60 do século passado). Hoje em dia a emigração
não é apenas feita com pessoas que vão para o estrangeiro trabalhar na
construção civil, na restauração, em serviços de limpeza, na hotelaria, em
explorações agrícolas. A emigração atual é também feita com enfermeiros, com
engenheiros, com arquitetos, com professores, com investigadores, etc.. O nosso
país está a formar profissionais (a maioria deles em universidades, institutos
politécnicos e escolas públicas) para depois deixar que eles apliquem os seus
conhecimentos e a sua formação no estrangeiro.
Em suma, será que ao
estarmos tão preocupados em aproximarmo-nos em termos nominais (isto é, pelos
“números e pelas estatísticas”) dos países desenvolvidos da União Europeia, não
estaremos pelo contrário a afastarmo-nos deles em termos reais, perdendo um dos
recursos mais valiosos que temos (os nossos recursos humanos)?!