quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Silêncio


Passam já mais de 75 anos desde o início da maior barbárie da era moderna, perpetrada por uma nação “inteira” sobre outro povo – o Holocausto. Era também esse o nome de uma série – Holocausto (1978) - que passou nas televisões de quase todo o mundo e que deu também a conhecer uma das mais promissoras actrizes – Meryl Streep. Foi através dessa série que tomei conhecimento dessa barbárie e que me fez ter especial apreço pelo povo judeu.

Muitos dos filmes e séries que retratavam essa época, abordavam o tema na perspectiva da vítima ou das vítimas. Só muito recentemente, os cineastas se começaram a interessar pela perspectiva do carrasco. Confesso que já era suficientemente aterradora a visão das atrocidades de sofreram as vítimas, mas é-me agora muito mais difícil aceitar a perspectiva do carrasco. Como foi possível que uma nação inteira fosse ou acometedora de crimes ou conivente ou silenciosa perante os crimes? Muitos, diz-se, tiveram de escolher entrar matar ou morrer, outros acreditavam e satisfaziam-se com os actos praticados, outros exilavam-se, outros permaneciam em silêncio.

Existem muitas explicações sociológicas e psicológicas para os comportamentos de grupo. Qualquer uma delas apontam causas para que em determinadas situações um ser humano possa prescindir dos seus valores e dos seus princípios e adoptar os princípios e comportamentos do grupo a que pertence ou a que quer pertencer. Os grupos onde mais se verificam este tipo de catarse invertida são os adolescentes, os políticos, os membros de gangs, as religiões ou seitas, os “hooligans” - entre outros. Normalmente, dentro destes grupos existe um líder ou um pequeno grupo liderante, uma estrutura hierárquica bem definida e um sistema de controlo e punição que evitem comportamentos desviantes. Aqui o “indivíduo” sente-se protegido, não interessando muitas vezes se concorda ou não com grupo. Silencia-se, enquanto esse silêncio compensar.

Existem, felizmente, indivíduos que permanecem indivíduos, fiéis aos seus princípios, mesmo que sós, mesmo que com isso estejam isolados, mesmo que com isso tenham um mundo contra si. É devido a eles que as revoluções científicas, políticas e tecnológicas se fazem. São eles os catalisadores da destruição criativa a que se refere Schumpeter. Enumero alguns: Mahatma Gandhi, Galileu Galilei, Oskar Schindler, Nelson Mandela, Obama. Todos estes homens fizeram história e ficaram na história pelo bem que fizeram. Mas, e o mais importante de tudo, é que não se silenciaram, nem aceitaram ser silenciados.

Termino, parafraseando o agora falecido historiador, Tony Judt: “Entrámos numa época perigosa, de esquecimento da história e de amnésia do mal”.

1 comentário:

Anónimo disse...

A bem da clareza do pensamento, é necessário apresentar os factos como eles são, ou seja apresentar a verdade toda. A exterminação nazi dirigiu-se não só aos judeus, mas também aos ciganos e comunistas entre outros. Infelizmente sobre estes não há quase filmes. Espero o "especial apreço", mais esclarecido, também pelos comunistas e pelos ciganos.