sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Taxas de juro e ilusão monetária

Por força das incertezas e receios induzidos pela crise que atravessamos, muitas pessoas procuram baixar o risco das aplicações das suas poupanças, refugiando-se em activos mais seguros, nomeadamente depósitos a prazo. Muitas consideram, porém, que as taxas de juro daquelas aplicações são manifestamente baixas e consideravelmente inferiores às praticadas antes da crise. Em boa verdade, este entendimento traduz, em alguns casos, o chamado fenómeno da ilusão monetária. É que aquilo que se deve considerar como baixas são as taxas de juro nominais. Quanto às taxas de juro reais (aquelas que, no fundo, deveriam determinar as opções dos indivíduos), isso já não será tanto assim. Importa, pois, clarificar estes aspectos.

A ilusão monetária acontece quando, ao pensarmos em termos nominais, não incorporamos devidamente a dimensão da variação dos preços (inflação) nos nossos raciocínios, o que pode levar-nos a conclusões (e eventuais decisões) menos correctas.
Vejamos um exemplo concreto, com aplicação às referidas taxas de juro (não considerando aqui, por facilidade de análise, os eventuais encargos fiscais sobre os juros).
Admita-se que no início de 2007 (antes da crise) determinado indivíduo efectuou um depósito a prazo de um ano à taxa de juro (nominal) de 4,5%, no montante de 100 euros. No vencimento (final de 2007) o indivíduo recebeu 104,5 euros (100 de reembolso do capital e 4,5 de juros). Em Portugal, a taxa de inflação média foi, em 2007, de 2,5%, significando que aquilo que se comprava, em média, com 100 euros no início do ano, custava no final de 2007, em média, 102,5 euros. Resulta daqui que o referido depositante para recuperar, no final de 2007, o poder de compra associado aos 100 euros inicialmente depositados, teria que receber 102,5 euros. Como recebeu 104,5 euros, então, em termos reais (juro real), o seu ganho corresponde ao poder de compra associado a 2 euros (diferença entre 104,5 e 102,5).
Admita-se agora que, no início de 2009, o mesmo indivíduo efectuou um novo depósito (a um ano) de 100 euros, a uma taxa (nominal) de 1,5% (manifestamente inferior, portanto, ao valor de 2007). No final de 2009, o indivíduo receberá 101,5 euros. Não se conhece ainda a taxa de inflação para 2009, para Portugal. No entanto, tendo em conta a evolução dos preços nos últimos meses (com variações negativas), estima-se que a mesma seja negativa. As previsões de Outono da União Europeia (de Outubro) apontam para uma taxa de inflação negativa em 1%, enquanto o Banco de Portugal (Boletim Económico de Verão, Julho 2009) prevê um valor negativo em 0,5%. Se assumirmos esta última estimativa, ela significa, genericamente, que aquilo que custava, em média, 100 euros no início de 2009, custará no final do ano, em média, 99,5 euros. Como o depositante receberá 101,5 euros, então, em termos reais, o juro corresponderá ao poder de compra associado a 2 euros (diferença entre 101,5 e 99,5). Ou seja, se em termos nominais as taxas são claramente distintas nos dois casos (4,5% e 1,5%), já em termos reais os ganhos (as taxas) são equivalentes. Se porventura os preços caírem mais que o previsto pelo Banco de Portugal, o depósito correspondente à segunda situação poderá até gerar um juro real superior ao do primeiro caso.
Importa pois considerar devidamente estes aspectos nas nossas opções.

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