quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


“Gerir e Poupar” (www.gerirepoupar.com)

A mais recente crise à escala global veio reforçar a preocupação de muitos organismos e entidades (nacionais e supranacionais) com a literacia financeira.

A título meramente exemplificativo podemos referir, entre nós, o inquéritoà literacia financeira da população levado a cabo pelo Banco de Portugal em 2010 e a publicação do Plano Nacional de Formação Financeira em 2011, da responsabilidade dos três reguladores financeiros portugueses, Banco de Portugal (BdP), Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Instituto de Seguros de Portugal (ISP). A nível internacional, organismos como a OCDE, a Comissão Europeia e o Banco Mundial têm igualmente vindo a mostrar grande preocupação com a questão da literacia financeira.

Um estudo recente (2012) levado a cabo pelo Banco Mundial (Literacia financeira e a crise financeira) revela resultados interessantes. O estudo baseou-se num conjunto de dados da Rússia, onde os empréstimos ao consumo cresceram de 10 mil milhões de dólares para mais de 170 mil milhões de dólares entre 2003 e 2008. Algumas conclusões deste estudo: apesar deste aumento brutal de recurso ao crédito, apenas cerca de 40% dos inquiridos compreende o significado de “juro composto” e 45% dos inquiridos consegue responder a uma questão simples sobre inflação. Por outro lado, conclui-se que pessoas com maiores conhecimentos financeiros tendem a poupar mais, sobretudo em épocas de crise, o que sugere que maior literacia financeira prepara melhora as pessoas para lidar com choques macroeconómicos.

Na sociedade atual o recurso a instrumentos financeiros (quer na ótica do financiamento, quer na ótica do investimento) é praticamente incontornável. Isto bastaria para que a educação financeira da população constituísse uma prioridade, sobretudo dos governos das nações. Como já por mais de uma vez manifestámos, este papel deveria competir, em primeira instância, à Escola, ao sistema de ensino, e deveria começar a sensibilizar os estudantes logo desde o momento em que nele ingressam e ao longo de todo o seu percurso académico. A complexidade dos produtos financeiros, a forte concorrência entre instituições e, em muitos casos, a pouca ética subjacente ao negócio reforçam esta necessidade. O Plano Nacional de Formação Financeira é um documento meritório. As medidas nele preconizadas têm vindo a ser executadas, talvez de forma não tão célere como certamente todos gostaríamos, mas ainda assim, percebe-se que o projeto não está parado. Em alguns aspetos, muitas entidades são chamadas a participar (não apenas as escolas, mas também outras instituições de formação, associações sindicais, entidades patronais, juntas de freguesia e outras).

Hoje vamos falar de uma iniciativa da DECO – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e da Direção Geral do Consumidor que merece ser divulgada, nomeadamente junto das escolas básicas e secundárias, uma vez que pode ser interessante como instrumento de apoio em algumas disciplinas ou outros contextos, na linha do preconizado no Plano Nacional de Formação Financeira.

Referimo-nos ao projeto “Gerir e Poupar” (www.gerirepoupar.com). A página tem duas grandes áreas, uma dirigida a crianças e jovens entre os 6 e os 12 anos e a outra mais vocacionada para jovens de idade superior. Na primeira são abordados temas como o Euro, aprender a gerir o dinheiro, saber usar o dinheiro e gerir a semanada. Em alguns casos são propostas atividades interativas (pequenos jogos) com um personagem animado, o Guito. Na segunda são abordados temas como o dinheiro, como ganhar dinheiro, gerir o dinheiro, poupar e investir e o crédito. De um modo geral, a partir de um pequeno filme que ilustra uma situação específica, são explicados os conceitos subjacentes, com preocupações pedagógicas, terminando com um breve teste de avaliação dos conhecimentos. Há ainda uma secção final com diversas recomendações e cuidados a ter. A página é complementada com um blogue, já com várias entradas em todos os temas tratados.

Como lá é dito, “as pessoas devem adquirir competências financeiras na sua vida o mais cedo possível e a escola desempenha um papel fundamental nesta educação”. Parece-nos que o recurso  à informação aqui disponibilizada pode ser útil, não apenas nas escolas, mas também em ambiente familiar.

Aproveitando o facto de, aqui, não estarmos sujeitos a restrições tão fortes em termos de dimensão do artigo como acontece nos jornais nossos parceiros, aproveitamos para referir e caracterizar sucintamente mais três fontes de informação relacionadas com o tema deste artigo:

- Dolceta. Projeto financiado pela Comissão Europeia que pretende promover a Educação do Consumidor através da internet. Engloba diversos módulos sobre diferentes tópicos relacionados com o consumo, enter os quais um sobre literacia financeira. As atividades propostas estão organizadas por áreas curriculares e grupos etários (Economia, Geografia, Inglês, Matemática, Português, etc.; crianças, jovens e jovens adultos). Embora não sendo grave, está desatualizado, no sentido em que ainda contempla a àrea de Projeto e a Formação Cívica, por exemplo. Engloba propostas de atividades para alunos do 1º ciclo ao secundário. Disponibiliza textos de apoio e testes online.

- Todos Contam. Portal associado ao Plano Nacional de Formação Financeira. Disponibiliza muita informação e materiais interessantes, de diversas entidades, sobre diversos temas, dirigidos a diferentes faixas etárias e uma boa bateria de simuladores.

- Portal do Cliente Bancário. Diretamente ligado ao Banco de Portugal, disponibiliza muita informação e alguns simuladores. Dirige-se a um público maioritariamente adulto.

1 comentário:

Unknown disse...

O papel da escola pode ser muito útil, mas em casa é que tudo começa. Ou se preferir, uma coordenação entre pais e escola. Antes de estourar esta bomba nas nossas mãos (a crise), e mesmo durante, assisti a muitas crianças, antes da entrada na escola, como moscas coladas às caixas de guloseimas a queimar o dinheiro dos pais. Mas o que mais me impressionou foi ver o que faziam aos poucos cêntimos que recebiam de troco. Farejavam tudo à procura de algo cujo preço coubesse naquela magra quantia (nem que fosse uma porcaria qualquer que ninguém queria), até conseguirem gastar tudo, até ao último cêntimo. Nem lhes passava pela cabeça guardar para juntar ao dia seguinte e comprar algo que realmente desejassem.