terça-feira, 26 de outubro de 2010

O inquérito à literacia financeira da população portuguesa 2010

Dada a proximidade do Dia Mundial da Poupança (31 de Outubro), nunca é demais aproveitar para destacar iniciativas que, directa ou indirectamente, apelem à necessidade e importância da realização de poupança.
A iniciativa que destaco diz respeito ao “Inquérito à literacia financeira da população portuguesa de 2010”, da responsabilidade do Banco de Portugal e cujos principais resultados foram divulgados no passado dia 18 de Outubro.
O inquérito consistiu na realização de 2.000 entrevistas porta-a-porta em todo o território nacional, entre Fevereiro e Março de 2010. Os entrevistados apresentavam idade igual ou superior a 16 anos, tendo sido definidos em função de cinco critérios: género, idade, região NUTS II (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira), situação laboral (activo ou não activo) e nível de escolaridade. As entrevistas basearam-se num questionário constituído por 94 questões de escolha múltipla acerca de cinco áreas temáticas: inclusão financeira, planeamento de despesas e poupança, gestão de conta bancária, escolha de produtos financeiros e compreensão financeira.
De entre os principais resultados do inquérito, destacaria os seguintes:
- 11% dos inquiridos revelam não possuir conta bancária;
- Apenas 52% dos inquiridos afirmam que efectuam poupanças e, destes, apenas 56% o fazem regularmente;
- Apenas cerca de 20% dos inquiridos afirmam poupar numa lógica de médio e longo prazo, aplicando os recursos numa conta a prazo ou noutra aplicação financeira (de facto, dos inquiridos que dizem fazer poupanças, 54% considera como poupança o dinheiro deixado numa conta à ordem para gastar mais tarde);
- No que se refere aos critérios de escolha do banco, 35% dos inquiridos afirmam ter sido a recomendação de familiares e amigos, 23% referem a proximidade do balcão de casa ou do local de trabalho e apenas 9% referem os custos mais baixos e 3% a remuneração da conta, o principal critério para a escolha do seu banco;
- A maioria dos inquiridos analisam a informação pré-contratual (83%), mas apenas 8% comparam os produtos;
- 69% dos inquiridos não sabem ou sabem “apenas aproximadamente” o valor da taxa de juro aplicada às suas poupanças;
- De entre os critérios de escolha do crédito à habitação, apenas 4% dos inquiridos indicam a TAE (taxa anual efectiva);
- Em relação à utilização de cartões de crédito, 43% dos inquiridos afirma que não paga a totalidade do saldo em dívida no final do mês;
- No que concerne à compreensão financeira, apenas 9% dos inquiridos responde com rigor quando questionados sobre o conceito de Euribor (sendo que 53% respondem incorrectamente e 38% respondem que “não sabem”) e apenas 17% sabem o significado do spread que incide sobre uma taxa de juro de referência (22% respondem incorrectamente e 61% respondem que “não sabem”).
Todos estes resultados podem ser considerados como algo preocupantes, evidenciando alguma falta de hábitos de poupança por parte dos portugueses e evidenciando também a importância de possuírem mais conhecimentos ao nível da literacia financeira. De facto, estes resultados apenas acentuam ainda mais a necessidade de sensibilização da população portuguesa para a importância da realização de poupança e, quando realizada, numa perspectiva de longo prazo, em vez de apenas para fins imediatos. São também evidentes as lacunas ao nível da literacia financeira. A população portuguesa deveria possuir um conjunto de conhecimentos mínimos ao nível da literacia financeira, de modo a poder ajudá-la: a identificar as formas mais correctas de constituir poupança, e, posteriormente, a aplicar correctamente essas mesmas poupanças; a averiguar a eventual necessidade de recurso ao crédito; uma vez decidido o recurso ao crédito, a escolher a modalidade de crédito mais vantajosa e a instituição bancária que apresenta condições mais favoráveis, etc..
Este assunto reveste-se de uma grande importância para todos nós, sobretudo em épocas de crise económico-financeira como a que actualmente vivemos. Porventura, em vésperas de (eventual) aprovação do Orçamento de Estado para 2011, mais importante do que estar à espera de saber se a taxa de IVA aumentará para 22% ou 23%, mais importante do que estar à espera de saber se o nosso IRS irá aumentar, é tomar desde já medidas concretas no sentido de racionalizar os nossos gastos de modo a constituirmos poupança numa perspectiva de longo prazo. Não podemos estar à espera que os outros ajam por nós. E se começarmos agora, talvez já comecemos com algum atraso…

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