O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou recentemente os valores da inflação relativos a Dezembro de 2009. Conhecendo-se assim o quadro final de evolução dos preços durante 2009, parece oportuno olhar para o mesmo e clarificar alguns valores.
Recorde-se que a inflação se mede pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), que é um indicador que mede a evolução, em termos relativos, do custo de um conjunto de bens e serviços (cabaz) considerado representativo da estrutura de consumo das famílias. Em Portugal o cabaz engloba mais de 1100 bens e serviços, repartidos por 12 classes.
O INE publica mensalmente três indicadores (taxas) de variação do IPC: a variação mensal (que compara o IPC de dois meses consecutivos), a variação homóloga (que compara o IPC de um mês com o IPC registado no mesmo mês do ano anterior) e a variação média dos últimos doze meses (que, medida para um determinado mês, compara a média do IPC mensal dos últimos doze meses com a média do IPC mensal dos doze meses imediatamente anteriores). Esta última taxa calculada para o mês de Dezembro de cada ano corresponde à chamada taxa de inflação anual, sendo por isso o indicador mais abrangente e o mais referenciado. Importa, pois, analisá-lo mais demoradamente.
O valor desta taxa para Dezembro de 2009 foi de -0,8%, resultante da comparação da média dos IPC dos 12 meses de 2009 (valor de 99,2) com a média dos IPC dos 12 meses de 2008 (valor de 100).
A inflação anual em Portugal foi, assim, de -0,8% em 2009 (em 2008 havia sido de 2,6%).
Este valor significa que em 2009 os preços caíram 0,8%, em média, relativamente a 2008. Ou, dizendo-o de outro modo, que aquilo que se comprava, em média, com 100 euros em 2008, custava, em média, 99,2 euros em 2009. Isto não significa que todos os preços tenham caído naquela dimensão. Relembre-se que o IPC é um indicador da variação dos preços mas em termos médios, podendo os preços dos vários bens e serviços evoluir de formas diversas. E foi o que aconteceu. Das 12 classes de bens e serviços que constituem o cabaz, os preços (em média) reduziram-se apenas em metade delas, registando-se acréscimos nas demais. As classes 1 (Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas) e 7 (Transportes) foram aquelas em que os preços mais caíram, em média (-3,4% e -3,6%, respectivamente). Por seu lado, as classes 2 (Bebidas alcoólicas e tabaco) e 10 (Educação) foram as que registaram maiores aumentos médios anuais (3,3% e 3,5%, respectivamente).
Como indicador da inflação anual de 2009, esse valor será referenciado em situações diversas: na negociação/definição dos ajustamentos salariais, na formulação de medidas no quadro da segurança social, na avaliação da própria competitividade do país (pela comparação do crescimento dos preços a nível interno e externo), na formulação da política de preços, na actualização de valores (enquanto indicador de actualização em contratos, disposições administrativas e judiciais, …), etc.
Esta inflação (negativa) em 2009 traduz uma situação perfeitamente anormal na evolução dos preços em Portugal nos últimos anos. A crise com que as economias se têm confrontado, com a correspondente contracção da procura a nível global e a redução verificada nos preços do petróleo e das matérias primas não energéticas, ajudam a explicar aquela evolução.
Para 2010 prevê-se que a inflação volte a valores positivos (o Banco de Portugal estima 0,7%), num contexto de recuperação económica, a nível nacional e mundial, que se espera (e deseja).
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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